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Desde que cheguei em Angola, muitos recomendavam e perguntavam se eu já tinha ido a Cabo Ledo. Diziam ser um lugar belíssimo, paradisíaco. Aproveitamos então o feriado da Páscoa, para irmos conhecer essa larga enseada, situada na província do Bengo, em Angola.

A caminhada foi longa, nada mais, nada menos que 120km de Luanda. Gostaríamos de passar ao menos uma noite na província, porém, em época de feriado, as reservas nas pousadas\ resorts têm que ser feitas com 1 mês de antecedência, pelo menos. Quando ligamos 15 dias antes, já não havia mais lugar disponível. Resolvemos então ir e voltar no mesmo dia.

Para isso, saimos de casa 6:30 da manhã! Sim, para não pegarmos engarrafamento e estrada vazia e assim, chegaríamos para pegar o horário do sol ainda “saudável”.

Bem, entre raios de sol, céu nublado, raios de sol, gotículas, de repente veio a chuva ameaçando estragar nosso feriado, mas, aos trancos e barrancos chegamos a Cabo Ledo com um sol belíssimo.

Um dos problemas que encontramos foi encontrar uma placa de sinalização indicando a entrada para Cabo Ledo. Apenas essas 2 placas que são de um dos resorts da região e de uma cabana de praia que discretamente revela o nome “Cabo Ledo”. Mas vamos lá!

Para se chegar a praia passamos por esse caminho aeh bem doloroso. Cheio de lombadas, buracos, para carros pequenos é preciso bem calma, paciência e ir bem devagar. Quando chove essa estrada fica um lamaceiro completo, o carro fica sambando que só.

Essa é a primeira visão que temos de cabo ledo. Barro vermelho com a visão do horizonte ao fundo, do céu se encontrando com o mar.

Ao nos aproximarmos, vamos notando a presença de algumas habitações ao redor. Começam a surgir alguns “putos” (meninOs pequenos – não, as meninas pequenas não são chamadas de “putas”) que ao verem a câmera, sorriem, dão tchau, correm, felizes apesar das condições de vida presente.

É clichê mas começamos a refletir que muitas vezes nossos problemas do dia-a-dia se tornam pequenos diante da realidade desses meninos.

A medida que vamos nos aproximando vemos um verdadeiro universo de favelas ao redor, antes de chegarmos a praia. É imenso! Digo isso, pois de início me lembrou um pouco Porto de Galinhas (Recife), que também possui uma pequena estrada de barro e algumas favelas ao redor. Mas aqui fiquei impressionada! Não somente com a quantidade mas com as condições de moradia e, são feitas de todo tipo que imaginar: papelão, barro, pano, palha…

Sim, vivem pessoas nesse barraco:

Essa com certeza deve ser uma habitação mais recente. A palha ainda está nova:

São casas misturadas com lixo, esgoto, ao mesmo tempo crianças brincando por ali. Entre vielas nota-se a presença de alguns bares, algumas quitandas com peixe seco exposto, não sei se a venda ou para consumo próprio:

Depois de mais alguns metros, você começa a ver algumas falésias, a indicação discreta, com pneus, que aquele é o caminho para o mar.

E finalmente chegamos a fronteira. Uma fronteira invisível para uns, mas notória para aqueles que sabem que de um lado está o luxo, o “paraíso”, e para os que ficam do lado de cá a “pobreza”, “miséria”, porém, crianças felizes e sorridentes que tornam essa chegada a Cabo Ledo um pouco menos triste, deprimente.

“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.” (Carlos Drummond de Andrade)

Por 2 anos consecutivos (2010 e 2011), Luanda foi eleita a cidade mais cara do mundo para se viver, ficando até mesmo na frente de São Paulo.

Só para se ter uma idéia, apartamentos com 2 quartos localizados no centro que não possuem nenhuma infra-estrutura, com os quais estamos acostumados no brasil: portaria, garagem, playground, etc., o aluguel chega a custar 3K a 5K dólares, em pleno CENTRÃO de Luanda, ou seja, longe de ser bairro nobre.

Já se tratando de alimentação, aqui em Luanda não se faz mercado (compra do mês) em um único lugar, senão, com o dinheiro que você entra, você não sai. Tem supermercados que chegam a ser uma piada de absurdo.

Da mesma forma, sair para comer é um prazer que não dá para fazer sempre, pois, dependendo de onde vá se gasta em torno de 40$ (por pessoa) em uma saída para o trivial: 1 bebida (refrigerante), prato compartilhado, sobremesa.

Em um próximo post irei fazer um comparativo da moeda local, com dólar e reais. Por isso, muitos finais de semana temos que nos dar o luxo de preparar o “mata bicho”.

Como adoro cozinhar, com uma receitinha aqui, outra acolá estamos muito bem servidos. Nem sempre sai certo (essas não postarei) hahaha..  Com vocês, vos apresento:

1.Filé de pescada ao molho de alcaparras e banana da terra

2. Macarrão com sardinha portuguesa. Esse em especial foi o Sr. Weber quem preparou, sua maior especialidade.. hahaha. Mas tenho que admitir que estava bem bom.

3.Moqueca de camarão, para não perdermos o costume da nossa coterrânea Bahia.

Bem, é isso! Até o próximo se vira nos 30!!

Como forma de sair um pouco da rotina, ando pesquisando alguns lugares fixes aqui em Luanda para frequentar. A principio, fixe significa legal! Termo descendente da colonização portuguesa.

Seguindo indicações de uma boa comida aliada ao visual resolvemos ir ao “Nossa Sombra”, no coração do Largo do Kinaxixi. Um lugar bem escondido que em meio a loucura do Kinaxixi, durante a semana, passa desapercebido.

Assim o lugar é bem bonito, ventilado, relaxante e exótico. Antigamente, era apenas um local onde se vendia plantas, porém, o dono resolveu transformar parte do estabelecimento em bar.

Ao chegarmos nos decepcionamos um pouco, era por volta de 12:30 e o bar ainda estava abrindo, não vimos nenhuma movimentação de gente e menos ainda do bar. Foi quando o responsável nos informou que dia de sábado não sai pratos, apenas petiscos, mas, pela animação do pessoal da cozinha parecia que não sairia nada.

Segundo o responsável, apenas durante a semana que sai alguns pratos executivos, e a noite que o pessoal frequenta para tomar uma cerveja e talz.

Decidimos então tomar apenas um suco de laranja, que por sinal estava bem referescante, e então partir em busca de outro lugar para almoçar. O atendimento que achamos um pouco demorado.

Após o suco resolvemos dar uma voltinha no espaço e a parte das plantas é bem bonita. Um encanto! Iríamos até comprar algumas mudas para por em casa mas os preços achamos BEM SALGADOS. Um vasinho simples chegava a custar uns 3 a 8 mil kwanzas, 30 a 80$ dólares.

Ficamos de retornar ao local, em dia útil, para dar uma esticadinha em uma dessas noites na capital angolana. Quando assim fizermos irei postar por aqui.

Porto de Luanda

O Porto de Luanda é um dos principais portos em Angola e está situado na “Baixa de Luanda”. Tal como em Salvador (Bahia) e Lisboa (Portugal), cidades divididas em Cidade Alta e Cidade Baixa, com Luanda acontece o mesmo.

Nas 3 cidades a definição é a mesma: Cidade Baixa se refere a parte antiga da cidade, Cidade Alta representa a parte nova.

Assim como o Porto de Salvador está situado na Bahia de Todos os Santos e protegido pela Ilha de Itaparica, o Porto de Luanda está situado na Baía de Luanda protegida então pela Ilha do Mussulo. A semelhança entre as duas cidades é mera coincidência. Características da colonização portuguesa?

As principais exportações do Porto de Luanda estão entre o café, diamante, sal, açucar e ferro. O Porto movimenta mais de 70% das importações e exportações de Angola.

Gostei bastante da arquitetura dele, lembra muito uma estação de trem.

Está em execução um projeto de revitalização da Baía de Luanda que está para ser entregue até Junho deste ano (2012). O projeto abrange uma intervenção na área marítima da baía como também na área terrestre com a construção de vias e espaços de lazer.

Luanda tem uma orla extensa e está ficando lindíssima, chamada de Marginal 4 de Fevereiro e é através dela que chegamos no Porto. Em um próximo post irei fotografar a orla e fazer o registro aqui para vocês.

bacalhau no carvão com batatas cozidas

Aqui em Luanda o que mais existem são restaurantes de tugas (portugueses). E uma das especialidades da culinária portuguesa é o famoso bacalhau. Escolhemos então o Veneza, localizado na R. Che Guevara, como opção para um almoço de domingo.

Restaurante Veneza

O Veneza possui um custo x benefício muito bom. Os preços são razoáveis mas em contrapartida as porções são bem servidas. Geralmente um único prato que custa em média uns R$70,00 serve bem até umas 3 pessoas. O menu serve desde carnes (frango, bovina, peixe, etc.) até frutos do mar.

Há diversas opções de bacalhau. E haja bacalhau… Bacalhau a Narcisa, Bacalhau no carvão, Bacalhau com batatas ao murro até mesmo o “Bacalhau que nunca chega”. Quem arrisca?

O curioso e diria engraçado foi ao folhear o cardápio, vendo as opções, entradas, pratos principais, porções, de repente me deparo com nada mais, nada menos quem?! O MICKEY!!!! Pensei: “Que diabos faz um mickey dentro do contexto Veneza?!”. Achei que fosse a área de hamburgueres (disney, estados unidos, america, tsc, tsc). Mas eram pratos “comuns”.

De forma bem pequena e discreta eu descubro “Menu Kid” … ahhhhh agora sim. Hora de repensar a programação visual.

Pedimos bacalhau ao carvão regado com muito azeite, alho, cebola, azeitonas e batatas cozidas. Muito bem servido, muito saboroso também.

O atendimento que não é lá estas coisas. Em muitos restaurantes aqui é difícil se encontrar um bom tratamento, os atendentes ainda não estão tão lapidados. Você se sente como se eles estivessem fazendo um favor em te servir. Sou contra quem trata garçom de forma grosseira, mas exigir um bom trabalho são direitos que se exigem de qualquer trabalhador destinado a fazer determinada atividade, independente de qual seja.

atendente veneza

O único “porém” do Veneza é o atendimento. Fora isso é um restaurante com ambiente bem agradável, comida boa, preço bom, bem frequentado.

É isso pessoas. Inté a próxima experiência gastronômica.

Se essa imagem fosse publicada em redes sociais poderia se tratar no mínimo de uma piada.

Mas, essa fotografia representa a sinalização localizada nas escadas do Edifício no qual eu moro atualmente. Vocês perguntariam, como assim?! Eu também me fiz essa mesma pergunta.

Pois é meus caros, o primeiro símbolo acredito que está claro: “Não faça xixi neste local”.
Bem, se formos parar e pensar, em algumas cidades do Brasil, muitos homens abrem a “braguilha” sem dó, piedade e pudor, em plena via pública, para demarcar o território. Eu poderia então elogiar dizendo que comparativamente, aqui se tem um pouco mais de decência pois procuram fazer em locais “reservados”, “íntimos”?

O segundo símbolo você pressupõe que de cara possa ser: “Não faça numero 2 neste local”. Mas, “pera lá”, “cuma assim?”. Não, não pode ser. O símbolo deve significar: “Não sente nas escadas”. Afinal, o símbolo não possui nenhum desenho representando o “sólido”.

Ao conversar com um nativo e questioná-lo a respeito do significado, o mesmo me responde: “Significa para não fazer o motivo de força maior”. Ou seja, isso mesmo: “Não largue seu embrulho aqui”.

Bem, como antigamente a maioria dos prédios e edifícios aqui em Luanda não tinham uma portaria, um vigia, os locais ficavam livres para ir e vir. Então, muitos moradores de rua entravam nos edifícios para fazer suas necessidades por ali mesmo. Em conversa, o nativo informou que muitas vezes os próprios moradores ao chegarem de uma festa, muito bêbados, por não aguentarem segurar, terminavam por fazer na escada mesmo.

Apesar das placas continuarem a sinalizar as escadas, nunca senti cheiro e nunca tropecei em nada pelas escadas. Também, hoje em dia alguns prédios já possuem seguranças e portões que intimidam um pouco os moradores de rua.

O único xixi que presencio todo dia é do cachorro do “tuga” (português) aqui ao lado. Não sei se é um padrão mas, simplesmente algumas pessoas não levam o animal para realizar suas necessidades na rua e sim no “hall” entre os apartamentos, mas, essa história vai ficar para um próximo post.

Inté tripulantes!

Oláaaa …

Hoje esse post será dedicado ao mais importante meio de transporte daqui de Luanda, a CANDONGA. Pelo menos, para a maioria da população, esse é o principal meio de locomoção pela cidade.

Pesquisei na internet sobre a origem do termo e encontrei que CANDONGA seria o ato de se comercializar produtos / serviços de forma clandestina. Mais tarde, conversando com um Angolano, ele confirmou que CANDONGA seria o ato de vender um produto ou prestar um serviço à margem da lei. E quem pratica essa ação é chamado de CANDONGUEIRO.

Ele não soube explicar a etimologia do termo mas, o nome surgiu do Kimbundu, uma língua do grupo Bantu, que faz parte da região do Kuwanza Norte.

Assim como no Brasil, temos nossos transportes “legais” (onibus, táxi particular, trem, metrõ, etc.), mas também temos os “ilegais” que seriam as “vans”, “kombis” onde as corridas são feitas sem um valor tabelado.

Como aqui em Luanda, ainda não existe um sistema público de transporte urbano, essas vans que por padrão são pintadas de azul e branco são na teoria e prática o transporte público da cidade. Nós expatriados a chamamos de CANDONGAS mas para os nativos elas são chamadas de Táxi.

Então poderíamos chamá-la de táxi coletivo pois você divide a “corrida” com mais umas 8 a 9 pessoas.

A quantidade de CANDONGAS espalhadas pela cidade é proporcional a quantidade de motos espalhadas por São Paulo, surgem que nem praga, aos montes.

Os motoristas, chamados de candongueiros, geralmente alugam o veículo e pagam aos proprietários pelo uso. A passagem, independente do destino, custa 100 kwanzas ( por volta de R$1,70).

Na época onde a quantidade de CANDONGAS era menor, os candongueiros chegavam a tirar US$ 1.000,00 POR DIA. Agora imaginem, em um mês em torno de US$ 30.000,00. Acho que virarei candongueira..

Dizem que andar de CANDONGA é andar com emoção a todo momento. No trânsito de uma cidade como Luanda então, onde as leis de trânsito não são cumpridas, imaginem só!

Outros já dizem não ser tão perigoso assim. Um dia eu “pego uma candonga” e conto como foi minha experiência com ela. Inté a próxima volta!

Mês inicia, chegado o momento de reabastecer a geladeira.
E em mais uma visita a um desses Supermercados, nada tão diferente dos modelos padrões que estamos acostumados no Brasil (HiperBompreço, Carrefour), encontro o curiosíssimo senão instigante CATATO.

Em um primeiro momento, de longe aparenta ser uma espécie de cogumelo, dando um pouco mais de atenção se aproxima de uma semente. Você até pensa no que de fato poderia ser mas, não consegue ou não quer acreditar que possa ser uma mera semelhança com INSETOS?

Pois bem, isso mesmo. O catato é parecido com larvas e pode ser encontrado em algumas províncias daqui de Angola.

Prega a lenda, que em reuniões de trabalho, com os tipicamente Angolanos, quando você é convidado a almoçar na casa de um deles, essa especiaria é ofertada como um acompanhamento do prato principal. Assim como no Brasil temos o nosso velho e bom feijão, arroz, farofa, aqui é oferecido o velho e bom CATATO. E é considerado uma ofensa se não comer.
Desde que cheguei ainda não passei por nenhuma situação dessas.

Pesquisando um pouco mais, apesar do CATATO não ter um ar muito apetitoso: “Contudo, este bichinho não podia ser mais higiénico, são raras as vezes que tocam no chão durante a sua vida que é feita em cima das palmeiras.” (Fonte: SAPO)

Quem come afirma que é das melhores iguarias do mundo.
Não foi dessa vez que me arrisquei a experimentar mas com certeza não sairei daqui sem dar o meu parecer final se de fato o bichinho é bom ou não é.

Carrinho de compras em Luanda

Em uma dessas visitas ao supermercado para reabastecer a geladeira me deparei com esse carrinho de compras.

É apenas uma estrutura de ferro onde são acopladas cestas plásticas de acordo com a necessidade.
Esse carrinho específico pode acoplar no máximo 2 cestas.

Apesar de aparentemente simples eles têm uma sacada muito boa:

– não ocupam espaços significativos;
– mais fáceis e leves para manusear;
– departamentalizar as compras, ou seja, associar cada cesta para um departamento no supermercado (há carrinhos que possibilitam até 6 cestas).

Nunca vi esse carrinho em alguns estados nos quais já visitei no Brasil mas acho que poderia ser um método a ser adotado e até mesmo expandir melhor a idéia de sustentabilidade.

Cestas
poderiam ser vendidas aos consumidores a um preço justo, dessa forma:
– diminuiriam custos de infraestrutura aos mercados;
– os consumidores teriam uma embalagem mais durável já que, muitas vezes, as caixas de papelão e sacolas não suportam tamanho peso das compras;
–  as cestas poderiam ser moldadas em forma de blocos permitindo perfeito encaixa uma nas outras para as compras serem melhor transportadas em carros.

Fica a dica!

Cidade de Luanda

Cidade de terra vermelha, de pouco verde, do “ya ya”, do “si si”, “pois pois”.

Cidade que parece ter mais carro do que gente, onde a desigualdade social é escancarada. Mas uma cidade de sorrisos e cumprimentos mesmo quando esses não conseguem esconder o sofrimento de um país machucado pela guerra.

Mas acima de tudo um povo unido e determinado a não somente reconstruir a cidade como uma nação.

E assim começam minhas novas experiências nesse mais novo habitat.